A Fábula do Estado da Ilha – Parte I
Você já se sentiu perdido quando o assunto é economia? Não sabe o que é inflação, desemprego, taxa de juros, dívida pública ou para que tudo isso serve?
Se sim, você não está sozinho. A economia pode ser um assunto complexo e difícil de entender. Mas não precisa ser assim. Nesse texto vamos apresentar uma fábula que vai te ajudar a entender alguns conceitos básicos da economia.
A fábula conta a história de uma ilha onde os habitantes viviam em um estado de subsistência. Até que um dia, eles decidem criar um estado para garantir a segurança, a justiça e o bem-estar social.
A partir daí a história começa a explicar como o Estado e o sistema financeiro funcionam com exemplos simples e boa didática, você vai entender a economia de uma forma fácil e divertida.
Então, não perca tempo! Leia agora mesmo o primeiro texto da série!
Essa série é de autoria de José Kobori e foi transcrita para a forma de texto, deixarei o link para o vídeo oficial do youtube ao final do texto.
Nesse capítulo você vai aprender sobre:
- O papel do Estado na sociedade
- O funcionamento da moeda
- O papel dos poupadores na economia
- O mercado de crédito
- A dívida pública
Entender de economia parece bastante complicado para a maioria das pessoas: inflação, desemprego, taxa de juros, dívida pública, carga tributária… Afinal, como tudo isso se relaciona e porque somos tão afetados por esses assuntos? Vou utilizar um exemplo simples para que o entendimento seja fácil, vou chamar nosso exemplo de “A Fábula do Estado da Ilha”.
Imagine que você se encontra numa ilha com outros 100 habitantes e esteja nos primórdios desta civilização. Alguns são pescadores, outros plantam bananas, outros colhem cocos, uns plantam trigo, uns constroem cabanas e outros constroem barcos de pesca… Enfim, as atividades são apenas de subsistência. Não existe ainda uma moeda e as trocas são feitas por escambo, o pescador troca seus peixes por bananas, outro paga pela construção da sua cabana com cocos, o plantador de trigo compra um barco de pesca com seu trigo, e etc. Tudo no país da ilha transcorre bem até o dia em que o colhedor de cocos, fisicamente mais forte que todos, resolve tomar a força as terras do plantador de trigo, e assim o faz.
Os outros habitantes da ilha temendo que a superioridade física de alguns faça prevalecer a força em detrimento da harmonia, se reúnem e encontram como solução a criação do estado da ilha para estabelecer algumas regras de segurança e assim garantir a convivência e a paz entre todos.
Aqui um adendo pra dizer que a garantia da propriedade privada está no cerne das obras de John Locke com os tratados sobre o governo civil.
A criação do Estado da Ilha
Com a criação do estado da ilha seus habitantes escolhem um presidente e elegem três representantes para que escrevam as regras que passarão a ser seguidas por todos, logo em seguida escolhem um juiz para fazer cumprir essas regras.
Estão criados os três poderes da república da ilha: o executivo, legislativo e o judiciário. A primeira ação do estado é criar uma moeda para facilitar as trocas até então feitas por escambo, é criada a unidade da pedra, esculpidas pelo novo governo que obriga todos os habitantes a utilizar a nova moeda, no jargão atual é o que chamamos de moeda de curso forçado. Assim, por exemplo, um peixe custa duas pedras, meia dúzia de bananas custa uma pedra, Cinco cocos uma pedra, uma cabana cinquenta pedras.
O estado da ilha chega a conclusão que para manter o poder de compra da nova moeda deve emitir as pedras em proporção igual a produção total da ilha, de peixes, cocos, bananas, cabanas, trigo e barcos, pois do contrário terá mais dinheiro que produtos disponíveis caso em que os preços relativos aumentarão. Uma conclusão lógica pensou o novo governante, por exemplo, se eu emitir 10 pedras e houver apenas 10 peixes, cada peixe custará uma pedra. Se a produção de peixes não aumentar e eu emitir mais 10 pedras totalizando 20 pedras na economia, o preço de equilíbrio do peixe passará a ser duas pedras.
O preço terá dobrado, ou por outro ponto de vista a unidade da pedra perderá metade do seu valor. E assim foi criada a moeda da ilha. Esses agora representantes do povo, para governar a ilha precisarão se dedicar em tempo integral as novas funções, e não poderão mais ter a renda de pescador, agricultor ou construtor que tinham antes, assim os habitantes passam a pagar um imposto para poder remunerar os governantes e manter esta nova estrutura do recém-criado estado da ilha. Da renda da produção de cada habitante passa a ser cobrado um tributo de 20%.
A importância dos poupadores dentro da economia
Com a criação da moeda os habitantes da ilha passam a conseguir poupar o excedente de produção, o que antes não era possível, pois o peixe que não era trocado perecia, assim como as bananas, trigo e cocos. Agora as pedras trocadas pelos excedentes poderiam ser armazenadas, assim alguns habitantes começaram a formar uma poupança e descobriram que ela poderia ser rentável se emprestassem, cobrando uma taxa para os outros habitantes que necessitassem de recursos.
Na outra ponta existiam esses habitantes que para expandir os seus negócios, por exemplo o construtor de cabanas, que precisava contratar mais gente para construir novas unidades mas não tinha recursos para comprar os materiais, ele poderia pegar emprestado dos que tinham poupança e pagar no futuro após a venda das cabanas, para isso estava disposto a pagar uma taxa de juros sobre o dinheiro emprestado. Assim a criação da moeda facilitou a troca, permitiu a expansão de negócios, ampliou as oportunidades para poupar, além de incentivar a poupança. Com a evolução deste mercado proporcionado pela moeda, surgiu um habitante empreendedor que vendo a dificuldade que havia para que as necessidades se encontrassem, ou seja, o habitante poupador encontrasse o habitante que necessitava de empréstimos, viu aí uma oportunidade de ser um intermediário financeiro, criou então a versão do que conhecemos hoje como banco.
Abria contas de depósitos para os poupadores e emprestava a juros para os empreendedores. Transformava prazos, riscos e magnitudes de capital entre as duas pontas, a criação desses novos contratos de empréstimos permitiu que recursos ociosos se tornassem produtivos, o que propiciou ganhos para o tomador e para o poupador.
O crescimento do Estado da Ilha
Com o passar do tempo já nas funções burocráticas do estado, os governantes contrataram assessores para as novas funções, o presidente contratou um, os legisladores contrataram um cada um, o juiz contratou mais um, além de solicitar ao presidente a contratação de policiais para fazer cumprir as suas decisões, assim foram contratados 3 policiais, que é o mínimo necessário para poder prender um criminoso. O antes estado enxuto da ilha de cinco servidores públicos, agora já eram 13. Com o aumento da folha de pagamento do estado foi necessário aumentar os tributos, que passaram a ser de 30% da renda dos habitantes.
O estado agora decidiu que era sua função manter a ilha limpa, fazer novas trilhas, construir um presídio, e etc. Mas ele não tinha recursos pois toda sua arrecadação via impostos estava comprometida com a recém aumentada folha de pagamento. Para não subir mais os tributos que ele recém havia aumentado, o estado resolveu pedir dinheiro emprestado para a população da ilha, para isso ele criou um título de dívida, os habitantes poupadores poderiam emprestar o seu dinheiro para o estado em troca de uma taxa de juros. Nessa operação foi criada a dívida pública.
Os poupadores através do seu banco tinham agora mais uma opção, emprestar dinheiro para o estado em detrimento de emprestar dinheiro para os empreendedores. O estado passou a ser o maior concorrente pelos recursos disponíveis na ilha.
Quanto mais ele se endividava, menos dinheiro sobrava para os negócios produtivos dos habitantes da ilha. No próximo capítulo vamos continuar aprendendo sobre economia com a evolução da fábula do estado da ilha, como a inflação acontece, porque as taxas de juros sobem e muito mais!