A Fábula do Estado da Ilha – Parte V – Por que a Inflação prejudica mais as classes mais pobres

Por que a Inflação prejudica mais as classes mais pobres

A Fábula do Estado da Ilha – Parte V

Essa série é de autoria de José Kobori e foi transcrita para a forma de texto, deixarei o link para o vídeo oficial do youtube ao final do texto.

Nesse capítulo você vai aprender sobre:

  • A função do Estado
  • O Estado não produz riqueza
  • Como se proteger de tempos de “crise”

 

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Após aquela noite de descobertas, todos foram descansar, e no dia seguinte o habitante da ilha relembrava tudo que foi ensinado pelo professor, como se dava a multiplicação do dinheiro e seus efeitos sobre os preços dos produtos. Mas o fenômeno da inflação e suas mazelas ainda não estavam completamente claros para ele, não via a hora de chegar a noite para que pudesse tirar ainda mais proveito dos conhecimentos do seu sábio hóspede.

A inflação afeta mais algumas pessoas do que outras

Já no jantar, sentados em volta dos alimentos, quase não conteve a sua ansiedade, mas conseguiu aguardar o professor terminar de saborear o delicioso peixe preparado pela sua esposa. Logo que pôde puxou conversa com o professor, queria entender porque alguns habitantes sofriam mais com a inflação do que os outros. O professor então, com a paciência que a avançada idade havia lhe conferido e já sabendo que esse assunto era completamente desconhecido para o povo da ilha, e por essa razão a explicação deveria ser detalhada e simples, perguntou se a estrutura do estado representava parcela considerável da economia da ilha.

Diante da resposta positiva do seu anfitrião, antes de iniciar o seu diagnóstico, ele continuou com mais perguntas para entender um pouco mais sobre o cenário econômico da ilha. Perguntou se o governo tinha déficit nas suas contas, ou seja, se gastava mais do que arrecadava de impostos, e se para pagar essa diferença ele emitia dívidas. Simplificou perguntando se ele pedia mais dinheiro emprestado para a população, e se mesmo gastando mais do que arrecadava o governo não diminuía as suas despesas.

Diante de todas as respostas positivas por parte do habitante da ilha, ele perguntou se quando não conseguia pagar as suas dívidas vencidas com a população, o estado usava a alternativa de emitir mais dinheiro, ou seja, esculpir mais pedras e utilizá-las nos pagamentos. Novamente as respostas foram positivas.

O professor então disse para o seu anfitrião que em algum momento no passado o estado do norte também passou por isso, então os conhecimentos que ele detinha eram por experiências passadas.

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A história se repete

Contou para o habitante da ilha que seus antepassados criaram o estado do norte diante da necessidade de impedir a violência e garantir as terras de cada habitante do norte, pois sem isso estava prevalecendo a lei dos mais fortes, ou seja, os mais fracos perdiam suas terras e alguns a própria vida para os mais fortes. Nesse momento o anfitrião interrompeu para dizer que o estado da ilha havia sido criado com o mesmo propósito, e contou o evento que levou a criação. Quando o colhedor de coco tomou a força as terras do plantador de trigo.

O professor fez então a primeira constatação da noite: A função do estado é impedir a violência e garantir as terras dos seus habitantes. Ou seja, a garantia da propriedade privada e das liberdades individuais.

Seguiu contando a história do estado do norte. Após a criação do estado e passado o tempo, os governos que se seguiram foram aumentando o número de trabalhadores pagos com o dinheiro público e assumindo funções que não foram originalmente delegadas ao estado pelo povo do norte. Eu ainda muito jovem, disse o professor, notei que o estado não tinha o mesmo cuidado com o dinheiro que teria qualquer habitante do norte, e isso me pareceu bastante lógico já que ninguém utiliza melhor o dinheiro, ou seja, de forma mais eficaz, do que aquele que suou para ganhá-lo.

Esse foi o segundo ensinamento da noite: O estado não produz riqueza, ele toma através de impostos daqueles que produzem, trabalhadores e empreendedores. Logo ele não terá o mesmo zelo pelo dinheiro, que tem aquele que o produziu.


O estado não age como o povo

O habitante da ilha admirava cada vez mais a sapiência do seu ilustre hóspede que prosseguia com os ensinamentos. Continuou o professor, quando o povo passa por dificuldades financeiras ele faz seus sacrifícios para ajustar o orçamento.

Economiza na alimentação, corta alguns gastos familiares, economiza lenha, trabalha mais, enfim cada um se vira como pode. O habitante da ilha se vendo exatamente naquela situação descrita pelo professor só balançava a cabeça em concordância. O estado nunca age como o povo, como cada um de nós individualmente.

Nesse momento seu anfitrião interrompeu novamente perguntando porque o estado não age como o povo se parece tão óbvio? O professor respondeu: se você pudesse gastar mais do que ganha e ao pedir dinheiro emprestado sempre tivesse alguém para te emprestar, você comeria menos e trabalharia mais? O habitante esbugalhou os olhos como se uma luz se acendesse na sua cabeça.

Prosseguiu o professor. E se em algum momento ninguém quisesse mais te emprestar dinheiro, mas você tivesse o poder de fabricá-lo, você comeria menos e trabalharia mais? O habitante abriu aquele sorriso do dia anterior, o sorriso de quem descobriu algo que ninguém conhecia (da sua ilha, claro).

Então seu sábio hóspede continuou, o estado na mesma situação de aperto, como qualquer um de nós age de forma diferente. Se nós quando temos nossa renda diminuída, seja por desemprego ou por inflação (que tira o poder de compra da nossa moeda, que é a mesma coisa que diminuir nossa renda), comemos menos e trabalhamos mais, o correto seria ele também comer menos e trabalhar mais.

O Estado deve “comer menos e trabalhar mais”

Nesse momento o habitante da ilha ficou sem entender, como assim o estado comer menos e trabalhar mais? Ora, disse o professor. Se está gastando mais do que arrecada, diminui seus gastos, diminui o número de assessores do estado, e trabalhar mais é produzir o mesmo com um número menor de pessoas, é a mesma coisa.

O estado é como a empresa de produzir bananas aqui da ilha, se a economia vai mal, a empresa não diminui os seus trabalhadores e tenta produzir a mesma coisa com menos gente? Sim, concordou o seu anfitrião.

Então, lembra o que eu disse há pouco? O estado não faz isso porque ele não suou para ter o dinheiro, então ele não terá o mesmo zelo com as contas públicas que você tem com as suas contas de casa. Além do mais ele pode pedir emprestado e quando ninguém mais quiser emprestar, ele pode fabricar dinheiro.

Fácil não é mesmo? Agora o que sentia o habitante da ilha, era um nó na cabeça. Entendeu como o aumento de preços ocorria – pelo aumento de dinheiro na economia sem a contrapartida de aumento na produção -, e também quais eram as suas causas – o excesso de gastos do estado – , mas ainda não conseguia entender porque uns sofriam mais que os outros com a inflação.

Como a inflação funciona na prática

Questionado sobre isso o professor passou a explicar. Imagine que um trabalhador da ilha ganhe em média 100 pedras por mês e o seu custo de vida seja de 100 pedras por mês, ou seja, todas as suas despesas com moradia, alimentação e etc, consome todo seu salário. Agora vamos supor que o estado da ilha ganhe, ou melhor arrecade, 1.000. 000 (um milhão) de pedras por mês, mas gaste 1. 200.000 (hum milhão e duzentas mil) pedras por mês. Ele terá um déficit de 200. 000 (duzentas mil) pedras.

Ou ele pega essas pedras emprestadas ou ele fabrica mais 200. 000 (duzentas mil) pedras, certo? O habitante da ilha concordou, pois isso ele já tinha aprendido bem.

Então, prosseguiu, o governo vai ter injetado mais 200. 000 (duzentas mil) pedras na economia e com isso causado um aumento nos preços. Com essa inflação o trabalhador agora precisará de 120 pedras para comprar os mesmos produtos, ou como falei há pouco, terá que comer menos para ajustar o seu orçamento, ou trabalhar mais para ganhar as 20 pedras excedentes.

Logo o trabalhador foi prejudicado pela irresponsabilidade fiscal do estado. Mas agora pense bem, essas 200. 000 (duzentas mil) pedras injetadas a mais pelo estado foram para a mão de quem?

Diante da dúvida na resposta do habitante, prosseguiu o professor. Para a mão do próprio estado, ele utilizou para pagar as despesas que ele fez a mais do que arrecadou.

Como se proteger da inflação

Então quem recebeu essas pedras excedentes, seja na própria estrutura do governo, seja aqueles que emprestaram dinheiro pro estado, se protegeram da inflação. Logo quem mais sofre com o descontrole das despesas do estado, e consequentemente com a inflação, são os mais pobres da ilha. E veja bem, a população que tinha poupança e emprestou para o estado não é culpada, na realidade é até um ensinamento a mais.

Quer se proteger de tempos ruins, poupe. A culpa não é de quem empresta, e sim de quem pediu emprestado.

Enquanto o primeiro foi responsável e conseguiu poupar, o segundo foi irresponsável por gastar mais do que ganha.

A conversa dessa noite já estava se estendendo demais, notando que o professor já bocejava de sono, o anfitrião fez a última pergunta da noite. O problema todo é o estado então? No que respondeu o professor: O estado é necessário em algumas áreas, como contei no início na história da nossa ilha do norte, e me parece que foi assim também aqui na sua ilha.

Precisamos apenas como sociedade criar mecanismos para que o estado não cresça demais e passe a existir apenas para atender a si próprio, em detrimento do seu povo. O estado tem como missão gastar dinheiro dos outros, em benefício dos outros, e esta é a pior forma de alocar recursos na economia. O professor cansado foi se deitar enquanto o anfitrião passou a noite em claro, digerindo toda informação que recebeu naquele jantar.

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Felipe Guida

Felipe Guida

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