A Fábula do Estado da Ilha – Parte IX
Essa série é de autoria de José Kobori e foi transcrita para a forma de texto, deixarei o link para o vídeo oficial do youtube ao final do texto.
Nesse capítulo você vai aprender sobre:
- Como o comércio é melhor para quem tem mais produtividade
- PIB
- Fatores de produção
Após o almoço e os ensinamentos daquela manhã, o professor seguiu para alguns compromissos pessoais e deixou que seu hóspede pudesse passear pela ilha do norte e conhecer novos lugares, aproveitando a tarde para saciar a sua curiosidade que não era pouca. Durante seu passeio vespertino o habitante do estado da ilha ficou impressionado com o vigor daquela economia, todos os trabalhadores e empreendedores da ilha do norte pareciam muito envolvidos e eficazes em suas atividades.
Tudo funcionava numa velocidade maior, nada parecido com a sua pacata ilha mais ao sul. Já a noite, esperou que todos terminassem suas refeições para que pudesse conversar mais calmamente com o professor.
O comércio é melhor para quem é mais produtivo
Terminando a sobremesa o habitante da ilha sacou do bolso suas anotações para tirar as dúvidas do que aprendera até então.
Professor, iniciou ele. Fiquei bastante satisfeito em entender porque o comércio é bom para todos, como a análise dos custos de oportunidade e das vantagens comparativas faz com que cada um se especialize no que é melhor e essas trocas comerciais acabam beneficiando a todos.
Mas uma coisa ainda me intriga. O quê? Perguntou o professor.
No exemplo do pecuarista e do agricultor entendi que ambos se beneficiaram, mas é impressão minha ou o pecuarista se beneficiou mais? Não é impressão não. Respondeu o professor.
Ao se especializarem o agricultor ficou com 1 quilo a mais de carne e 1 quilo a mais de batatas, mas o pecuarista ficou com 1 quilo a mais de carne e 3 quilos a mais de batatas. Porquê? Indagou o seu hóspede.
O pecuarista é melhor em tudo, lembra? Respondeu o professor. Mesmo assim o comércio é bom para os dois, mas é muito melhor para quem tem mais produtividade.
Antes que seu hóspede pudesse fazer a próxima pergunta o sagaz professor o indagou: O que você pôde notar no seu passeio durante esta tarde? Era como se antecipasse a próxima dúvida da noite. O habitante da ilha prontamente respondeu: O comércio aqui na ilha do norte é muito mais pujante e consequentemente a economia de vocês parece muito mais saudável.
Produtividade gera riqueza
Pude notar que tudo funciona numa velocidade maior, ao final da tarde fiquei com a impressão que sua ilha é mais rica e as pessoas vivem melhor. O professor então retomou a palavra.
No final do nosso almoço pude notar ao mesmo tempo sua satisfação pelos novos conhecimentos adquiridos, mas também a sua ansiedade por entendimentos mais sólidos dos conceitos que aprendeu. Na realidade esperava que você colhesse estas impressões ao longo da tarde, nada melhor que enxergarmos a prosperidade com nossos próprios olhos.
Vou aproveitar a sua percepção para explicar, não só porque o pecuarista se beneficiou mais, apesar de todos se beneficiarem, mas também como uma ilha se beneficia mais que a outra apesar das duas se beneficiarem.
Como você já deve ter concluído o pecuarista tem mais riquezas que o agricultor, e a nossa ilha tem mais riquezas que a sua. Assim como a explicação que vou lhe dar agora serve para os trabalhadores e empreendedores, serve também para as ilhas. Nossa ilha lhe pareceu mais rica e melhor porque o padrão de vida de uma ilha depende da sua capacidade de produzir bens e serviços.
A história da ilha do Norte
Vou te contar a história da nossa ilha, pois vai ajudá-lo entender de forma simples o que poderia parecer complexo se eu lhe explicasse a economia atual.
O primeiro habitante da ilha do norte foi um náufrago que aqui chegou, seu nome era Robinson Josué. Como ele era só, pescava seu próprio peixe, plantava suas bananas e fazia suas roupas, então a economia da ilha era ele, pense nisso como a economia mais simples que possa existir. A produção total da economia era o que Josué conseguia produzir de peixes, bananas e roupas. O que determina o padrão de vida de Josué? Perguntou o professor.
A sua capacidade de pescar, cultivar bananas e produzir roupas? Respondeu perguntando o seu hóspede. Exato, disse o professor. Se ele for competente nessas atividades viverá bem, do contrário viverá mal.
Como ele só pode consumir o que consegue produzir, seu padrão de vida está ligado a sua capacidade produtiva, Vamos retomar o que conversamos há alguns dias.
Vamos relembrar o que define a produtividade
A produtividade se refere a quantidade de bens e serviços que um trabalhador pode produzir por cada hora de trabalho, no caso do Josué é fácil chegar a conclusão que a sua produtividade é determinante no seu padrão de vida. Se a sua produtividade cresce, cresce o seu padrão de vida.
Quanto mais peixes Josué pescar por hora mais poderá comer no jantar, se ele encontrar um local melhor para pescar, sua produtividade aumentará. O aumento na produtividade o deixará em situação melhor.
Como assim? Interrompeu o hóspede do professor. Como melhora a situação dele?
Ele pode comer mais peixes, respondeu o professor. Ou passar menos tempo pescando e dedicar mais tempo na produção de bananas e roupas. O que quero lhe transmitir é que naquela época a produtividade de Josué determinava o seu padrão de vida.
E isso é válido hoje para a ilha toda com muito mais habitantes, o que valeu para Josué vale para nossa ilha. Criamos com o tempo uma forma de medir a produtividade da ilha.
Como medir a produtividade de uma população inteira?
A renda total de Josué não era a sua capacidade total de produção? Sim, respondeu o habitante da ilha. Então a renda total da ilha é a capacidade total de produção da ilha.
Criamos uma medida que chamamos de Produção da Ilha Bruta – PIB (Produto Interno Bruto*). Esse PIB mede duas coisas ao mesmo tempo: a renda total auferida por todos os habitantes da nossa ilha e a despesa total com bens e serviços produzidos na ilha.
A razão pela qual o PIB é capaz de medir as duas coisas simultaneamente é que para a ilha como um todo elas precisam ser iguais. Então o PIB da ilha mede a renda da ilha e a sua produção total de bens e serviços, lembra do Josué? Sua renda total é igual a sua produção total.
Da mesma forma que Josué, a ilha hoje só consegue ter um padrão de vida elevado se for capaz de produzir uma grande quantidade de bens e serviços. Vamos então a sua percepção desta tarde que passou sozinho visitando a ilha do norte.
Porque algumas ilhas são tão melhores do que outras na produção de bens e serviços? Não sei professor, disse o habitante da ilha mais ao sul. Posso até deduzir pela sua explicação sobre produtividade, mas ainda faltam algumas peças pra completar o meu raciocínio.
Exato. Sua dúvida certamente está ligada em como a produtividade é determinada. Voltemos a história de nosso primeiro habitante, o náufrago Robinson Josué.
O que aumenta a produtividade?
Embora a produtividade seja importante para determinar o padrão de vida de Josué, são muitos os fatores que a determinam, por exemplo, Josué pescará melhor se tiver mais varas de pesca, se tiver treinado as melhores técnicas de pesca, se a ilha tiver oferta abundante de peixes ou se inventar uma isca de pesca melhor, concorda? O seu hóspede concordou só pelo olhar de “eureka” que tomou conta da sua expressão.
Com olhar de satisfação o professor continuou, vamos chamar cada um desses fatores de determinantes da produtividade de Josué.
As varas de pesca vamos chamar de Capital Físico, seu treinamento de Capital Humano, a abundância de peixes na ilha de Recursos Naturais e a isca melhor de Conhecimento Tecnológico.
Nesse momento o habitante da ilha interrompeu com uma lembrança, são os fatores de produção que o senhor me ensinou dias atrás? Exatamente, disse o professor.
Que bom que você não se esqueceu, agora tudo ficará mais claro para você, as pessoas são mais produtivas se tiverem mais ferramentas para trabalhar. Essa quantidade de equipamentos e estruturas utilizadas para produzir bens e serviços é chamado de capital físico, ou simplesmente capital.
Por exemplo, uma quantidade maior de equipamentos de pesca permite que os peixes sejam capturados com maior rapidez e precisão, ou seja, um pescador que pesque apenas com as mãos vai produzir menos peixes que outro que tenha os equipamentos de pesca, como bem lembrado por você, o capital é um dos fatores de produção.
O segundo determinante na produtividade é o capital humano, esse não exige maiores explicações, pois você já aprendeu bem com o Josué.
Se ele treinar mais pra pescar produzirá mais peixes, essas habilidades ele adquire com educação, treinamento e experiência. Ou seja, quanto mais educação obtiver uma pessoa mais sua produtividade aumentará.
É o meu caso né professor, disse rindo o habitante da ilha. Só de passar estes dias com o senhor já serei mais produtivo. Sim respondeu satisfeito o professor. E compartilhar desse conhecimento ajudará sua ilha como um todo.
O terceiro determinante na produtividade são os recursos naturais, prosseguiu o professor. Recursos naturais como o próprio nome diz é o que a natureza nos proporciona, no caso do Josué um mar repleto de peixes, ou terras férteis para cultivar bananas.
Mas veja bem, embora os recursos naturais sejam importantes não são necessários ou impeditivos para que uma ilha seja altamente eficiente na produção de bens e serviços. Como assim? Indagou agora cheio de dúvidas o habitante da ilha.
O quarto fator de produção
Lembra das varas de pesca de Josué? Perguntou o professor. Sim, respondeu seu hóspede.
Então, não naquela época, mas hoje nossa ilha importa os equipamentos de pesca de uma ilha bem distante daqui. Fiz uma visita há um tempo atrás a esta ilha distante no oriente, ela é minúscula, nem árvores tem mas conseguem fabricar os melhores equipamentos de pesca que existem.
Eles não têm recursos naturais mas são muito ricos pois tem o quarto determinante da produtividade, e o utiliza maravilhosamente bem, conhecimento tecnológico. É a isca de pesca melhor, né professor? Lembrou o habitante da ilha. Sim, tecnologia melhor disse o professor.
Conhecer as melhores maneiras de produzir bens e serviços assim como Josué captura mais peixes por ter uma isca melhor.
Você pode estar confuso agora porque são três os fatores de produção que lhe ensinei dias atrás: terra, capital e trabalho.
E agora estamos falando de quatro, sendo o conhecimento tecnológico o quarto. Tecnologia pode se confundir com os outros três fatores de produção, e se confundem, mas tecnologia é conhecer as melhores maneiras de produzir os mesmos bens e serviços. Nós aqui na ilha também fabricamos varas de pesca e iscas, que é o capital.
Mas os equipamentos fabricados na ilha do oriente são melhores e conseguimos produzir mais peixes quando utilizamos esses equipamentos com melhor tecnologia. Os orientais tem um conhecimento tecnológico maior na produção desse capital, entendeu?
Sim professor, agora ficou claro, disse bocejante o seu hóspede morrendo de sono pois este havia sido um longo dia de aprendizado, do café da manhã ao jantar.
Assim logo se recolheram para um profundo descanso…