A Fábula do Estado da Ilha – Parte VI
Essa série é de autoria de José Kobori e foi transcrita para a forma de texto, deixarei o link para o vídeo oficial do youtube ao final do texto.
Nesse capítulo você vai aprender sobre:
- Os caminhos para uma economia próspera
- Solução para o problema da inflação
- Fatores de produção
- Risco x Retorno
Após aprender os conceitos sobre como a inflação afeta de formas diferentes a população, o habitante da ilha ao mesmo tempo que estava satisfeito em entender estes mecanismos, estava também curioso para saber se haveria uma solução para sair do ciclo vicioso que a economia da ilha havia se enfiado.
Tomado pela ansiedade por novos conhecimentos, o anfitrião mal deixou o professor se sentar para o jantar e sem mais delongas foi logo abordando seu hóspede com mais perguntas.
Existe solução para a inflação?
Professor, entendi bem as razões dos problemas econômicos que estamos passando aqui na ilha, os gastos descontrolados do nosso governo fizeram com que ele se endividasse mais e pagasse mais juros, o que o leva a utilizar grande parte dos recursos da ilha que poderiam estar indo para a produção.
A emissão de mais dívida pública e de dinheiro gera inflação, e também como a inflação afeta os mais pobres da ilha. Mas qual seria a solução, se é que ela existe?
O professor então relembrou seu anfitrião que a inflação acontece quando há mais dinheiro na ilha do que produtos para serem consumidos.
Simples relembrou ele: se existem apenas 10 pedras como dinheiro e apenas 10 bananas como produto, seu preço de equilíbrio será de uma pedra cada banana. Se forem criadas mais 10 pedras e a produção de bananas não aumentar, agora serão 20 pedras para as mesmas 10 bananas, logo o preço de equilíbrio irá para 2 pedras cada banana.
Para os preços diminuírem você precisa não só controlar a quantidade de dinheiro na economia mas aumentar a produção, esse é um caminho saudável para um crescimento econômico sustentável.
Como aumentar o crescimento econômico
Diante desta constatação o habitante da ilha indagou o professor como isso seria possível, já que os habitantes produziam todos no máximo de suas capacidades humanas. O professor respondeu: A ilha de vocês é muito jovem como civilização, a produção pelo que pude notar vem apenas do trabalho dos habitantes, assim a produção total da ilha depende apenas de um fator de produção, o trabalho. Existe uma forma de produzir mais: criar ferramentas que permitam produzir mais com a mesma mão-de-obra.
Como assim ferramentas? Perguntou o habitante. Criar artesanatos capazes de ajudar a produzir mais, respondeu o professor.
Por exemplo: lá no estado do norte os colhedores de cocos criaram uma ferramenta que nós chamamos de escada, assim o colhedor que antes conseguia catar apenas 10 cocos por dia agora consegue catar 20, pois antes ele escalava os coqueiros com as mãos e os pés, agora com a escada ele consegue chegar ao topo dos coqueiros muito mais rápido e com menos esforço. Como é essa ferramenta? Indagou o habitante.
O professor então desenhou no chão o seu formato. O habitante perguntou então quanto tempo levaria para fazer este artefato. Com habilidade uns três dias, respondeu o professor.
Risco e recompensa
O anfitrião então coçando a cabeça falou ao professor: três dias é muito, se o colhedor de cocos passar três dias fazendo esta escada ele terá três dias a menos de renda, já que não colherá os cocos nesses dias. Ninguém pode se dar ao luxo de perder três dias de renda. Sim, concordou o professor.
É um risco, mas quem assumir este risco pode ser recompensado com uma renda melhor no futuro. Os habitantes com perfis mais empreendedores com certeza poderão assumir este risco. Este foi um dos ensinamentos importantes da noite.
Quem toma riscos em uma economia tem possibilidades de colher melhores retornos, mas essas pessoas ficarão sem comer estes três dias? Era a dúvida do habitante, já que no início de uma civilização como a da ilha as atividades eram de subsistência, ou seja, produziu no dia come, não produziu passa fome.
A importância da poupança para assumir riscos
O professor então relembrou para o habitante o que havia falado na noite do dia anterior sobre poupança.
Poupar é se abster de um consumo atual para consumir mais e melhor no futuro, ela não serve apenas para nos proteger de tempos ruins, serve também e melhor, para melhorar nossa vida em tempos bons.
E explicou: Se eles formarem uma poupança poderão utilizá-la em determinado momento para fabricar as escadas. Os cocos poupados servirão para sustentar o colhedor nos três dias necessários para fabricar a escada e com o aumento da produção propiciada pela escada ele terá um retorno bem maior do que antes, assim a poupança terá valido a pena.
Agora são dois fatores de produção, capital e trabalho (a escada é o capital). Mais um ensinamento importante daquela noite, a poupança permite a criação de capital para aumentar a produção.
Pensativo o habitante finalmente deu tempo para que o professor pudesse iniciar a sua refeição da noite. Entre uma pausa ou outra, eles retomavam a conversa para tirar as dúvidas do anfitrião.
Numa dessas o habitante questionou o professor e de certa forma a sí mesmo: porque até então os habitantes da ilha, incluindo aí ele mesmo, nunca haviam pensado nisso? O professor então disse para ele não se culpar, na ilha do norte também levou um tempo para isso acontecer. Explicou: quando estamos focados na nossa sobrevivência é difícil termos criatividade para a inovação, a inovação pressupõe riscos e nem todos estão dispostos a assumir riscos e isso é natural. Como assim? Perguntou o seu anfitrião.
A importância do empreendedorismo
Cometemos o erro de achar que todos somos iguais e não somos. Alguns se contentam com o que tem e estão bem assim, são os que chamamos de avessos ao risco.
Outros com espírito mais arrojado, os empreendedores, estão mais propensos ao risco, querem de alguma forma fazer diferente. São esses que poupam e tentam inovar, eles que tomam os riscos, muitos ficam pelo caminho pois não dão certo e os que dão certo são recompensados pelo retorno maior.
Vocês devem estimular quem têm esta característica pois são eles que farão a produtividade da ilha aumentar, e quando a produtividade dos fatores de produção aumentar, a economia da ilha crescerá de forma sustentável.
O habitante estava bastante satisfeito com o nível dos ensinamentos daquela noite, anteriormente era como se fossem apenas diagnósticos dos problemas, o que era muito importante entender, mas agora eram as soluções que ele estava aprendendo.
Então ele comentou com o professor durante a sobremesa: Até hoje nós imaginávamos que o aumento em nosso consumo era um sinal de crescimento econômico da ilha, o que está errado nessa constatação?
O professor disse que durante algum tempo no passado essa também era uma crença na ilha do norte. Mas existe uma razão bastante lógica que torna essa premissa falsa. Perguntou ele para seu anfitrião: se a produção total da ilha são 10 bananas, concorda que o consumo total não poderá ser mais do que 10 bananas?
Sim, respondeu o anfitrião. Logo o limite do consumo será o limite da produção, certo? Positivamente respondeu o habitante balançando a cabeça.
Então só haverá consumo se houver produção, se vocês estimularem o consumo sem que haja produção equivalente seja de que forma for, no limite, quando não houver mais produção à ser consumida, o que haverá será um aumento nos preços. Aquele parecia ser o último ensinamento daquela noite: Não é o consumo que gera crescimento econômico, é a produção.
Resumo dos conhecimentos aprendidos
O professor aproveitou que o habitante estava reflexivo e se levantou pedindo licença para ir se deitar. Já de pé antes de se retirar, fez questão de resumir para o seu anfitrião os principais ensinamentos da noite:
1) A poupança permite a criação de capital para a expansão da produção.
2) A economia cresce quando aumenta a produtividade do capital e do trabalho.
3) O capital é criado por aqueles que tomam riscos.
4) É a produção, e não o consumo, que agrega valor na economia.
O anfitrião agradeceu por mais aquela noite de conhecimentos e antes de ir se deitar fez questão de anotar tudo que aprendeu durante o jantar.