A Fábula do Estado da Ilha – Parte IV
Essa série é de autoria de José Kobori e foi transcrita para a forma de texto, deixarei o link para o vídeo oficial do youtube ao final do texto.
Nesse capítulo você vai aprender sobre:
- O poder de multiplicação do dinheiro pelos bancos
- Depósito Compulsório
Após o retorno da viagem ao estado do norte os habitantes da ilha ainda estavam intrigados com a diferença no valor das moedas e como aquilo era possível. Tudo era muito novo, os conhecimentos ainda eram muito superficiais para o jovem estado da ilha. A inflação parecia ser um fenômeno conhecido, mas o entendimento dos mecanismos que causaram a magnitude da desvalorização, não.
Novas oportunidades a caminho!
Passado algum tempo uma nova viagem dos comerciantes do norte chegou a ilha, dessa vez com uma comitiva maior. A descoberta deste novo vizinho mais ao sul abriu muitas oportunidades para todos os empreendedores do estado do norte. Esta nova missão comercial gerou mais oportunidades de trocas, principalmente de conhecimento, que era o que mais interessava para alguns habitantes da ilha muito sagazes por entender como os vizinhos do norte se tornaram tão prósperos.
Descobriram que um dos integrantes da comitiva (o mais velho), um senhor de 80 anos, ele não era apenas comerciante mas também um professor e considerado um sábio pelo seu povo. Um dos habitantes da ilha ávido por conhecimento tratou logo de fazer amizade com ele e hospedou o professor em sua cabana. Nos dias seguintes conversaram bastante durante os jantares, e num desses, o habitante da ilha perguntou como eles faziam para manter o poder de compra da sua moeda.
Entre uma garfada e outra, o professor então perguntou se todo dinheiro depositado no banco da ilha era utilizado pelo banqueiro para fazer seus negócios. Diante da resposta positiva, o professor disse à ele que esse era um problema muito grave. Curioso, o habitante quis entender porque ele via nisso um problema grave, e o professor passou a explicar: Se você deposita 100 pedras no seu banco, ficará registrado lá na sua conta que você tem 100 pedras.
Se o banco emprestar essas 100 pedras para outros habitantes que estejam precisando para expandir os seus negócios, por exemplo: 50 pedras para o construtor de cabanas, e 50 pedras para o produtor de bananas, eles também terão disponíveis na conta mais 100 pedras.
Agora serão 200 pedras disponíveis para uso: 100 pedras suas e mais 100 pedras deles, mas a quantidade de pedras reais é só as 100 que foi depositada por você. O habitante da ilha ficou assustado, e o professor continuou: Digamos que o construtor e o produtor não utilizem imediatamente estas 100 pedras, e as deixem depositadas esperando um melhor momento para utilizá-las, um período de clima melhor para plantar as bananas e construir cabanas.
O banco, tem agora contas com 200 pedras contabilizadas. Se aparecerem mais candidatos a tomar empréstimos com o banco, ele vai emprestar. Digamos que empreste mais 100 pedras para outros habitantes.
Olha só, diz o professor, suas 100 pedras que existem fisicamente se transformaram agora em 300 pedras. Agora você tem 100 pedras no saldo da sua conta, o construtor e o produtor mais 50 pedras cada um no saldo da conta deles e os novos tomadores de empréstimos mais 100. Esse processo vai se repetir infinitamente sem controle.
Existe mais dinheiro do que foi “impresso”?
Existem muito mais pedras na economia da ilha do que foram lapidadas fisicamente. Diante desta constatação o habitante da ilha ficou perplexo com esta nova descoberta, além da criação de moeda pelo estado, ainda existia esse mecanismo de multiplicação do dinheiro que é desconhecido pelos habitantes e pelos governantes do estado da ilha.
Foi como se um novo mundo de conhecimento se abrisse para ele naquele momento. Agora estava tudo muito lógico, se a moeda é infinita, então a inflação também será. Ele precisava fazer algo para ajudar o seu povo, aquela parecia ser a explicação para as mazelas da ilha.
Se a invenção da moeda havia facilitado a vida de todos, a falta de controle dela seria a sua destruição. A queda no poder de compra da moeda já era explicada pela alta inflação na ilha, ou seja, uma maior quantidade de pedras para uma quantidade menor de produção de bens e serviços que estava estagnada há tempos. Mas a criação de moeda que não existe pelo banco da ilha era desconhecida.
O habitante quis saber como o estado do norte evitou esse problema. O professor que já estava comendo raspas de coco de sobremesa disse que eles quase deixaram isso acontecer. A ilha do norte era um pouco mais antiga, e ele quando jovem foi chamado a aconselhar o governante da época.
Como solucionar esse novo problema?
O professor com um raciocínio a frente do seu tempo aconselhou o governo a criar uma regra para o banco da ilha do norte. O banco não poderia emprestar todo dinheiro que fosse depositado nele, eles deveriam deixar reservado metade numa conta em nome do banco, mas controlada pelo governo, e não poderiam dispor desta parte para fazer negócios. Isso matematicamente tiraria o poder de multiplicação do dinheiro.
Mas este não foi o único conselho, o principal, disse o professor, foi dizer para o governo que a cada 100 moedas de cobre que ele cria, era como se colocasse em circulação uma quantidade muito maior, pois mesmo com esse regra, o banco poderia multiplicar esse valor por 2, ou seja, de cada 100 moedas de cobre que ele cria, é como se injetasse 200 na economia. Nesse momento o habitante da ilha, sem nenhum conhecimento matemático, engasgou com a sobremesa. Como o professor sabia exatamente o valor multiplicado?
O professor rindo da situação, antes de dar a fórmula, explicou detalhadamente, pois notou pela expressão do seu anfitrião seu completo desconhecimento matemático. Veja bem, o primeiro deposita 100 moedas, Como o banco só poderá utilizar a metade, 50 moedas, é isso que ele faz. Com os próximos 50 novamente ele só poderá utilizar metade, 25, e assim sucessivamente.
Então é só somar a capacidade do banco de utilizar essas moedas. até o valor não ser mais utilizável… menos de 1 centavo… a soma total desses valores será de 200 moedas. O professor então explicou que esse cálculo é mais fácil de se fazer por uma fórmula matemática que ele havia criado.
O poder de multiplicação é a razão da moeda criada pela quantidade estipulada pelo governo que o banco não poderia utilizar. Nesse caso o multiplicador seria 2, por isso ele sabia que de cada 100 moedas de cobre o banco criaria mais 100, totalizando 200. Aquela havia sido a melhor noite da vida do habitante da ilha, não só pela agradável companhia do professor, mas pelo mundo novo de conhecimentos que se abriu para ele. Ficou maravilhado com os conhecimentos adquiridos durante o jantar e se sentiu um privilegiado, estava não só ansioso para contar para os outros habitantes mas também para aconselhar os governantes do estado da ilha.
Aqueles não seriam os únicos ensinamentos que ele receberia do professor, mas isso fica para o próximo capítulo…